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Relatório Final: Arquitetura Moderna Natalense, explorando e reestruturando o acervo iconográfico

 

Discente:            2013050415 - BÁRBARA RODRIGUES MARINHO

Projeto:               PVG8625-2013 - Arquitetura Moderna em Natal: forma, espaço e sociedade

Orientador:        EDJA BEZERRA FARIA TRIGUEIRO

Data de Envio:  15/07/2014 15:45

 

Resumo

 

A arquitetura moderna que outrora balizou a imagem das cidades potiguares, sobretudo nos anos 1950 aos anos 1970, encontra-se em acelerado ritmo de desaparecimento, seja pelo processo de substituição edilícia ou pelos novos usos dados aos edifícios e a consequente descaracterização. Comparando a literatura nacional e a regional - sobretudo Paraíba e Pernambuco – com a literatura local – ampliada nos últimos anos, graças a estudos acadêmicos – percebe-se que a quantidade de registros sobre o modernismo potiguar ainda é escassa. Muitos estudos usaram como referência um acervo de informações sobre edifícios modernistas natalenses construído ao longo dos anos, em colaboração discente/docente organizado pelo grupo de pesquisa Morfologia e Usos da Arquitetura, apesar de muitas vezes apresentar quadros com incompletudes de dados, o que dificulta uma análise aprofundada dos edifícios. Na tentativa de identificar casos deste acervo anteriormente não mencionados na literatura, mas que possuem características que os definem como legítimos representantes dessa arquitetura, determinou-se um quadro de critérios valorativos, ajustados à realidade da nossa produção, capaz de dialogar com as produções regional e nacional, a partir da revisão da bibliográfica sobre a produção de Pernambuco e Paraíba. A inclusão de novos casos, mediante essa revisão, nos possibilita um novo olhar sobre essa produção.

Palavras-chave: arquitetura moderna; Natal; características definidoras; valoração

 

Introdução

 

A arquitetura moderna que demarcou fortemente o cenário construído das cidades potiguares, sobretudo o de Natal, dos anos 1950 aos anos 1970, está desaparecendo em ritmo acelerado, na esteira da alta valorização de bairros nos quais essa produção se concentrou e conseqüente processo de substituição edilícia.

Destrinchando a literatura regional sobre o tema, sobretudo da Paraíba e de Pernambuco, percebe-se que a literatura local – ampliada nos últimos tempos graças, principalmente, a estudos acadêmicos – ainda é bastante reduzida. Boa parte dos estudos usa como referência um acervo de informações sobre edifícios modernistas natalenses construído ao longo dos anos, em colaboração discente/docente nos trabalhos disciplinares, trabalhos de conclusão de curso e relatórios de pesquisa e extensão organizado por componentes do grupo de pesquisa Morfologia e Usos da Arquitetura.

Diante do exposto, nessa fase do projeto (2013-2014), a intenção é divulgar casos expressivos deste acervo a partir da identificação de um conjunto de casos representativos dessa produção mas que escaparam a menção de autores. Para isso, foi necessário estabelecer um quadro de critérios valorativos abrangentes e bem ajustados à realidade da nossa produção, capaz de dialogar com as produções regional e nacional, principalmente a partir da revisão da bibliográfica sobre a produção de Pernambuco - Naslavisky (2012), Rocha (2004) e da Paraíba - Pereira (2012) - que contribuíram para classificação de edifícios que não estão referidos na literatura, mas apresentam características que os associam a esse estilo arquitetônico. Esse trabalho, complementa estudos da fase anterior do projeto de pesquisa, na qual foi possível identificar, a partir da literatura, cerca de 20 casos que podem ser considerados ícones dessa produção.

 

Objetivos

 

Entre os objetivos da pesquisa está complementar o conjunto de casos identificados como ícones modernistas potiguares na etapa anterior deste projeto, mediante a inclusão de exemplares também importantes representantes dessa produção e contribuir para a definição de critérios valorativos ancorados em fontes bibliográficas (Plano de Trabalho ARQUITETURA MODERNA NATALENSE: CRITÉRIOS ANALÍTICOS PARA A CLASSIFICAÇÃO DE ÍCONES), mediante o escrutínio de casos classificados como “modernos” em nossas bases de dados georreferenciados, mas ausentes ou pouco referidos na literatura / selecionados como objetos de estudo.

 

Metodologia

 

No primeiro momento da pesquisa, estudou-se de Melo (2004), buscando ter um panorama geral sobre a arquitetura modernista em Natal e a obra de Tinem (2006) com o intuito de reconhecer o modo como a arquitetura moderna brasileira é vista mundialmente em termos de valoração e foram construídas tabelas que serviriam de parâmetro para matriz de critérios valorativos que seria delineada a posteriori. Em seguida, iniciou-se a revisão bibliográfica sobre a produção modernista da Paraíba e de Pernambuco, a partir de artigos com publicação em anais do DOCOMOMO Norte/Nordeste 2007 (PE) e 2010 (PB) e de obras/estudos de relevância para literatura modernista no Nordeste como Naslavisky (2012) e Rocha(2004), dos quais foram feitas sínteses e tabelas trazendo informações sobre os pontos de maior relevância para definir e classificar ícones, construindo, a partir desses dados, uma matriz única de critérios valorativos, subdivida em aspectos como autoria, relação edifício-entorno, caixa-mural e volumetria, métodos construtivos, planta-baixa e distribuição espacial, soluções e adaptações climáticas, além do ano de construção – relacionado sempre – ao impacto/relevância daquela construção para a época.

 

No segundo momento, o estudo teve como suporte além da bibliografia indicada, o cruzamento de dados do acervo MUsA através de ferramentas de georreferenciamento, acervo fotográfico digital dos edifícios e arquivos em slides de apresentação. Nesse momento, o objetivo era, mediante a revisão do acervo existente na MUsA, identificar casos de relevância para historiografia da arquitetura moderna antes não mencionados na literatura. Para isso, optamos por ter, como objeto de estudo, apenas arquitetura residencial, tendo em vista que edifícios públicos ou de uso coletivo em grande maioria, foram classificados anteriormente como ícones modernistas natalenses. Como base para análise e classificação dos edifícios, foi usada a matriz delineada na etapa anterior.

 

Resultados

 

Foi construída uma matriz de critérios valorativos, a qual consiste na compilação das informações sobre os edifícios modernistas que aparecem com maior frequência na bibliografia revisada. Esses dados, de modo a gerar melhor entendimento, foram organizados em categorias que perpassam data de construção, volumetria, características formais quanto à relação edifício-lote-quadra-espaço público, aspectos construtivos, decisões projetuais para adaptação climática, origem e capacitação (engenheiros, arquitetos, práticos) dos projetistas e organização espacial.

Ao analisar os edifícios residenciais modernistas natalenses, foi possível perceber grande recorrência de elementos mencionados na bibliografia sobre a produção do Nordeste, sobretudo quanto à volumetria adotada, aos aspectos construtivos, e principalmente com as decisões projetuais para adaptação climática. A partir dessa percepção, somada a conhecimentos adquiridos anteriormente sobre o modernismo potiguar, foram identificados cerca de 30 exemplares, sendo 58% deles no bairro do Tirol, 22,5% no bairro de Petrópolis, 13% no bairro do Alecrim e 6,5% nos bairros de Areia Preta e Barro Vermelho. Notou-se ainda, a existência de edifícios de projetistas símbolos do modernismo local, e que contudo, não foram referidas anteriormente. Alguns desses casos são as residências nº533 na Hermes da Fonseca – Petrópolis, do arquiteto Moacyr Gomes e a nº1001, na Rua Governador Juvenal Lamartine – Tirol, do arquiteto Ubirajara Galvão.

 

 

Discussões

 

Essa pesquisa me levou a refletir sobre a forma como a sociedade – dotada de argumentos como a datação recente dessas construções e a suposta ausência de valor arquitetônico nelas - e o meio acadêmico, o qual geralmente vangloria boa parte das vezes, edifícios de grande porte e destaque na cidade, esquecendo-se da arquitetura vernácula, popular, também representante dessa época, vê e encara o desaparecimento desse patrimônio – vide caso noticiado recente do Hotel Internacional Reis Magos. A ampliação dos edifícios e a busca por essa matriz valorativa não é em vão, é uma tentativa, de levar a público, a importância de uma arquitetura com identidade regional e que deve ter reconhecimento.

 

Conclusões

 

O rápido desaparecimento e constantes debates sobre a significância da arquitetura moderna, tanto em aspectos formais quanto identitários, traz à tona a urgência de documentar e divulgar esse patrimônio, pouco conhecido dentro e fora do meio acadêmico. Apesar dos esforços e do desejo de que essa arquitetura permaneça na imagem da cidade do Natal, muitos exemplares já deram espaço para construção de centros comerciais ou edifícios multifamiliares. Portanto, a contribuição maior desse trabalho foi a busca pela preservação da memória, do registro de uma época e de uma cidade em constante transformação.

 

Perspectivas

 

É possível vislumbrar agora, o blog de "Ícones modernistas natalenses" pensado nas etapas anteriores do projeto, divulgando os resultados dessa pesquisa na rede mundial de computadores para a sociedade, pertencente ou não ao meio acadêmico, de modo que seja possível - ao menos o conhecimento da existência dessa arquitetura que rapidamente está desaparecendo.

 

Bibliografia

 

ALMEIDA, Adriana; CARVALHO, Juliano. Augusto Reynaldo e as primeiras casas modernas em Campina Grande-PB. In:_____. TINEM, Nelci (Org.). 3° DOCOMOMO Norte/Nordeste. 1 ed. João Pessoa: Editora Universitária, 2012, p. 242-267.

GALVÃO, Marlene G. Ubirajara Galvão – Trajetória, Natal, 2007

MARQUES, Sonia; NASLAVSKY, Guilah. Eu vi o modernismo nascer... Foi no Recife. In:_____. 1° DOCOMOMO Norte/Nordeste. 1 ed. Recife: CECI/UNICAP, 2007, p. 81-105.

MELO, Alexandra Consulin Seabra. “Yes, nós temos arquitetura moderna: reconstituição e análise da arquitetura residencial moderna em Natal”. Dissertação de Mestrado. Natal: PPGAU/UFRN, 2004.

NASLAVISKY, Guilah. “Arquitetura moderna no Recife: 1949-1972. Recife: E.da Rocha, 2012.

PEREIRA, Fúlvio. As Modernas Contribuições de Mario Glauco Di Lascio. In:_____. TINEM, Nelci (Org.). 3° DOCOMOMO Norte/Nordeste. 1 ed. João Pessoa: Editora Universitária, 2012, p. 304-317.

PEREIRA, Marizo V. Análise da concepção arquitetural à luz da arquiteturologia: um estudo da produção de edifícios de uso não residencial do arquiteto João Maurício Fernandes de

Miranda, entre 1961 e 1981. 2008. Dissertação (Mestrado em arquitetura e urbanismo) – Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio Grande

do Norte, Natal,2008.

ROCHA, Edileusa (Org.). Guia do Recife: arquitetura e paisagismo. 1 ed. Recife: Edição dos Autores, 2004.

SILVA, Paula; LUNA, Romena; LUCENA, Alex. Metodologia para análise do desenvolvimento térmico de edificações residenciais verticais em regiões de clima quente-úmido. Exemplos da arquitetura moderna de Pernambuco. In:_____. 1° DOCOMOMO Norte/Nordeste. 1 ed. Recife: CECI/UNICAP, 2007.

TINEM, Nelci. O alvo do olhar estrangeiro: o Brasil na historiografia da arquitetura moderna. João Pessoa: Manufatura, 2002.

Matriz Valorativa. Fonte: Trigueiro et al (2014)

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